A revolta voltou a incendiar a cidade de Baltimore, em Maryland, nos EUA, depois de um jovem afro-americano ter morrido às mãos da polícia, na sequência de uma detenção arbitrária. Poderíamos estar a falar de Trayvon Scott, que em Fevereiro apareceu morto numa cela de Baltimore sem qualquer explicação; ou de Tyrone West, inocente e sem cadastro, que foi espancado até à morte pela polícia desta cidade; ou de George King, de 19 anos, que foi preso à cama do hospital e electrocutado com tasers pelos agentes; ou de Anthony Anderson, que acabou por sucumbir a horas de espancamento na mesma esquadra... mas estamos a falar de Freddie Gray, detido ilegalmente a 12 de Abril e que no passado dia 19 morreu com 80 por cento da coluna vertebral partida e a laringe esmagada. Na verdade, estamos a falar do mesmo assassino: o racismo estado-unidense e o seu demiurgo histórico: o capitalismo.
Em Baltimore, a polícia é todos os anos alvo de quase 500 acusações de brutalidade e racismo. Porém, apesar de desde 2011 as forças policiais terem sido condenadas por mais de 100 crimes graves, quase nenhum agente foi preso: a administração da cidade canaliza anualmente mais de 12 milhões de dólares para a compensação das vítimas de brutalidade policial, o dobro do orçamento para a educação. O resultado é o previsto: o erário público é drenado para resoluções judiciais que apenas fermentam a atmosfera de impunidade policial.
A linguagem dos oprimidos
As manifestações pacíficas contra o racismo que vinham decorrendo desde a morte de Gray atingiriam um momento de viragem no dia do funeral, no sábado, 25 de Abril.
As dezenas de milhares de pessoas que se manifestaram por toda a cidade foram recebidas com provocações de grupos fascistas e agressões da polícia de choque.
Os enfrentamentos que se seguiram até ao fecho desta edição têm sido sistematicamente utilizados pelos principais meios de comunicação social para demonizar os protestos e cobrir toda a cidade com um manto repressivo de 5000 polícias armados com equipamento de guerra. Esta segunda-feira, o Governador Larry Logan declarou o estado de emergência, impondo o recolher obrigatório e autorizando a intervenção das forças armadas para reprimir os protestos.
Por outro lado, para responder à espiral repressiva, estão a tecer-se alianças
improváveis no seio da sofrida comunidade afro-americana. Juntando-se ao movimento Black Lives Matter (literalmente as Vidas dos Negros Importam), às organizações de classe no terreno e à Nação do Islão, foi agora a vez dos principais gangs da cidade (os Crips, os Bloods e a Black Guerrilla Family) declararem uma trégua entre si, juntando forças para deter a violência da polícia.
improváveis no seio da sofrida comunidade afro-americana. Juntando-se ao movimento Black Lives Matter (literalmente as Vidas dos Negros Importam), às organizações de classe no terreno e à Nação do Islão, foi agora a vez dos principais gangs da cidade (os Crips, os Bloods e a Black Guerrilla Family) declararem uma trégua entre si, juntando forças para deter a violência da polícia.
Relatos entre os membros indicam que membros da Nação Islã organizaram e intermediaram a trégua, da mesma forma como aconteceu em Los Angeles há duas décadas.
"Eu posso dizer com honestidade aqueles irmãos demonstraram que eles podem estar unidos para um bem comum", Carlos Muhammad, um ministro na Nação do Islã Mesquita de No. 6 disse.
E no entanto, as atenções mediáticas dos EUA continuam presas nos confrontos e na destruição, com ameaças de que «a economia de Baltimore nunca mais se irá reerguer». Numa rara amostra da profundidade do apartheid norte-americano, aqueles que nunca exigiram justiça para Gray são os mesmos que se levantam agora, num coro de incredulidade e protesto, contra a destruição de duas dezenas de montras, revelando que para o capitalismo a propriedade vale mais do que a vida.
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